Ismael Alves – Em 2022, na sua primeira disputa pelo governo de Pernambuco, Raquel Lyra adotou uma postura de neutralidade ideológica no segundo turno das eleições. A estratégia lhe garantiu apoios tanto de lideranças de direita quanto de esquerda, fator que fortaleceu sua candidatura e contribuiu diretamente para a vitória nas urnas.
No início do mandato, manteve, em tese, a postura de indefinição. Na prática, chegou a se aproximar de bolsonaristas em um primeiro momento, mas logo criou distância dos apoiadores de Jair Bolsonaro à medida que se aproximou do governo Lula.
A mudança de rota ficou mais evidente quando deixou o PSDB por defender que a sigla não deveria fazer oposição a Lula. Migrou para o PSD, partido que ocupa ministérios na gestão petista, entre eles a pasta da Pesca e Aquicultura, comandada pelo pernambucano André de Paula, pai de Cacau de Paula, secretária de Cultura de Raquel. O movimento foi interpretado como uma tentativa de estreitar laços com o presidente e, até mesmo, alimentar a expectativa de contar com o apoio de Lula em sua reeleição.
João Campos (PSB), provável adversário de Raquel nas eleições de 2026, apoiou Lula abertamente em 2022 e demonstra confiança em tê-lo no palanque no próximo pleito. Embora se fale na possibilidade de um palanque duplo, a maioria das lideranças petistas de expressão em Pernambuco vê a hipótese como pouco ou nada provável. A avaliação predominante é de que Lula tenderá a subir no palanque de João, sustentada pelo argumento da reciprocidade.
Contudo, um ponto de incerteza permanece. O PSD defende abertamente candidatura própria à Presidência, mesmo integrando o governo federal. Aliás, o presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, ainda ontem afirmou, durante entrevista no programa Canal Livre, da Band, que o PSD só não terá candidatura própria se o bolsonarista Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, não for candidato à presidência. Muito mais que apoiador de Tarcísio, Kassab é secretário de Governo e Relações Institucionais do governo de São Paulo. Nesse cenário, resta a dúvida: Raquel apoiará Lula ou um eventual candidato do PSD? Ou ficará no muro de novo?