Ismael Alves – As imagens em destaque são bem parecidas. Em 30 de julho de 2024, o mundo assistiu à prisão de Freddy Superlano, o então principal líder da oposição ao regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Superlano foi retirado de seu veículo por homens armados e levado ao centro de detenção El Helicoide.
Não foi a primeira vez que opositores do regime chavista foram perseguidos. Ainda em 2024, o candidato Edmundo González, apoiado por María Corina Machado e apontado por observadores independentes como o verdadeiro vencedor das eleições, foi alvo de mandado de prisão em setembro e precisou se exilar na Espanha. Já María Corina, impedida de disputar o pleito, segue sob forte vigilância do regime.
No Brasil, um cenário que provoca inquietação se desenha. Na sexta-feira (18), uma operação da Polícia Federal foi realizada na residência do ex-presidente Jair Bolsonaro, em Brasília. Foram apreendidos cerca de 14 mil dólares em espécie, devidamente declarados, além de um celular e um pendrive que, dias depois, revelou conter apenas fotos pessoais e músicas gospel.
Contudo, a operação veio acompanhada de sanções consideradas excessivas por especialistas do direito. Bolsonaro teve suspenso o direito de usar redes sociais, dar entrevistas, manter contato com mais de 100 pessoas, incluindo seu filho Eduardo Bolsonaro e embaixadores estrangeiros, além de estar submetido a toque de recolher diário das 19h às 7h, proibição de sair aos fins de semana e uso de tornozeleira eletrônica.
As medidas foram mantidas pela maioria da Primeira Turma do STF, mas receberam o voto contrário do ministro Luiz Fux, que alertou para os excessos e os riscos às liberdades de expressão e locomoção. Também o ex-ministro do Supremo, Marco Aurélio Mello, se manifestou contra os excessos durante entrevista à Rádio Jornal.
Enquanto cresce o cerco ao principal nome da oposição no país, diversos parlamentares conservadores também enfrentam risco de cassação, cada qual por motivações diferentes. Paralelamente, o STF revogou trechos do Marco Civil da Internet e assumiu o protagonismo na regulação das redes sociais, sem passar pelo crivo do Congresso Nacional, que constitucionalmente é quem deveria legislar.
Essa movimentação ocorreu dias após o presidente Lula visitar a China, onde, junto à primeira-dama Janja, queixou-se ao presidente Xi Jinping [que não governa sob regime democrático], de que o algoritmo do TikTok favoreceria a direita no Brasil.
Empresas internacionais, como a X Corp (antigo Twitter), chegaram a processar o Estado brasileiro por censura, acusando o Judiciário de impor restrições incompatíveis com princípios democráticos.
Só quem não percebe a gravidade desses fatores [e as perturbadoras coincidências com práticas autoritárias] é quem está muito ocupado defendendo um partido, ideologia ou político de estimação, sem a sabedoria para perceber que a própria voz corre risco iminente de ser silenciada.