Ismael Alves – Em reação ao aumento de tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros anunciado pelo governo dos Estados Unidos, uma forte articulação institucional envolve os poderes Executivo e Legislativo para enfrentar o que está sendo tratado como “agressão” às exportações do país. O vice‑presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), lidera o diálogo com a Casa Branca e o setor produtivo, enquanto os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos‑PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União‑AP), reforçam prontidão total do Congresso para apoiar medidas diplomáticas, jurídicas e econômicas.
Alckmin destacou a discrepância na relação comercial entre Brasil e EUA, ressaltando que os norte‑americanos registram superávit na balança e que muitas de suas exportações ao Brasil seguem isentas de tarifas. Considera, portanto, “inadequado e injusto” o patamar elevado anunciado pelo governo Trump. O governo brasileiro já encaminhou, ainda em 15 de maio, uma proposta confidencial de negociação aos EUA, sem retorno, e agora busca que essa oferta seja analisada e respondida.
Alcolumbre declarou que o Congresso está “integralmente à disposição” para resguardar a soberania nacional, os empregos e os empresários brasileiros, descrevendo a imposição norte‑americana como uma “agressão ao Brasil e aos brasileiros”. Motta, por sua vez, enfatizou que o Legislativo permanecerá “na retaguarda” do Executivo, pronto para agir com rapidez e firmeza, e citou a Lei da Reciprocidade, recentemente regulamentada, como instrumento jurídico‑econômico para eventuais contramedidas.
Essa atuação conjunta reforça a liderança do governo federal na condução das negociações, tarefa delegada a Alckmin pelas mais altas instâncias, e impede iniciativas paralelas, como a assumida pelo governador Tarcísio de Freitas, de São Paulo.
Em carta enviada aos Estados Unidos, assinada por Alckmin e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o Brasil manifestou “indignação” com a medida e reafirmou seu interesse em negociar uma solução “mutuamente aceitável” antes do prazo de implementação das tarifas, estipulado para o dia 1º de agosto. O governo brasileiro ressaltou ainda que, nos últimos 15 anos, acumulou um déficit comercial próximo de US$ 410 bilhões com os EUA, reforçando a necessidade de uma abordagem negociada e cautelosa.
Com o apoio sólido do Congresso e a mobilização de uma comitiva parlamentar prevista para Washington ainda em julho, o Brasil se estrutura para formular uma resposta coordenada, que poderá incluir medidas via OMC e a aplicação da Lei da Reciprocidade, visando reequilibrar a relação com os EUA e proteger os interesses do país.
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