Ismael Alves – O governo Lula (PT) protagonizou uma reviravolta fiscal que tem chamado a atenção: em abril, previa um superávit primário de R$ 14,5 bilhões para 2025; agora, estima um rombo de R$ 52 bilhões. A despencada de mais de R$ 66 bilhões nas contas públicas em apenas dois meses só reafirma as dificuldades da equipe econômica em manter as metas do novo arcabouço fiscal e escancara um cenário político de pressões e concessões.
O principal fator por trás da mudança é a revisão das receitas. A equipe de Haddad já admite que muitas das medidas pensadas para aumentar a arrecadação não se concretizaram. Tentativas de taxar setores como as apostas online e o fim de benefícios fiscais perderam força no Congresso. Resultado: menos dinheiro entrando e mais dificuldade em fechar a conta.
Na ponta das despesas, nada de corte. Ao contrário: o governo mantém compromissos com reajustes de servidores, expansão de programas sociais e investimentos públicos, sobretudo diante de um ano pré-eleitoral onde agradar a base parlamentar é prioridade.
Com esse novo cenário, o governo já trabalha com a possibilidade real de não cumprir a meta de déficit zero em 2025 — promessa que escorava a credibilidade – já enfraquecida – do ministro da Fazenda. Haddad ainda evita admitir publicamente a revisão da meta, mas interlocutores já falam em preparar o terreno político para flexibilizá-la.
Nos bastidores, o Planalto tenta evitar o desgaste, mas sabe que o mercado está de olho. A mudança drástica nas projeções acende alerta sobre a capacidade de controle fiscal do governo Lula 3 — e fragiliza ainda mais a posição de Haddad frente às alas mais gastadoras do governo.